06/03/2024
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Acolher é uma força que a mulher transmite. Um jeito especial de transformar espaços vazios em abraços estreitos, mãos que se estendem, olhares atentos, ouvidos abertos. Lugar da recepção, do afago, da palavra que oferece consolo e ânimo. Ali onde toda fala é recebida com afeto, todo gesto de carinho encontra eco, todo problema merece reflexão, ali a mulher é. Mas acolher significa ainda mais. Preparar para o mundo que está lá fora, fazer compreender que existem fronteiras a superar, a começar pelas paredes da própria casa. Mulher sabe receber logo na entrada, deixar à vontade, orientar pelos corredores, apresentar salas e quartos. Mas também sabe reconduzir até a mesma porta, orientar para outras vontades, deixar que outros corredores se abram, apresentar outras tantas salas, outros tantos quartos.
Cuidar é uma força que a mulher compartilha. Torres erguidas para defender seu espaço e todos os que o ocupam. Muros que apontam para o alto, para cima. Instrumentos construídos para evitar aproximações indesejáveis. Ali, onde olhares atentos poderão perceber, em algum recanto da muralha construída para abrigar, a mulher preparada para proteger e sempre pronta para resistir, ali a mulher é. Mas cuidar significa ainda mais. Indicar as estratégias do ataque, lançar-se na linha de frente, permanecer na vanguarda. Mulher sabe perceber no horizonte o perigo que se aproxima e orientar cada guerreiro para enfrentá-lo. Mas também sabe guiar esses mesmos guerreiros e avançar sobre aquele horizonte, aproximar-se do perigo e encará-lo, proteger os que estão na fortaleza, até o momento em que eles sejam responsáveis por outras proteções.
Sentir é uma força que a mulher irradia. A nascente de onde brotam outras fontes, o rio para onde todos correm, quando querem matar a sede, a mina d’água sonora e cheia de vida. O remanso tranquilo do frescor, da transparência e da limpidez. Ali onde o chafariz alivia o cansaço e todo andarilho recebe o estímulo necessário para prosseguir a caminhada, ali a mulher é. Mas sentir significa ainda mais. Demonstrar como se pode avançar pelas margens, ocupar os terrenos próximos e distantes, favorecer o início da colheita. Mulher sabe ser água em pequenas porções, o suficiente para a necessidade mais urgente. Mas também sabe extravasar, alagar, fazer-se exemplo nessa superação dos limites estabelecidos, represar emoções com a mesma intensidade com que permite que elas transbordem.
Nutrir é uma força que a mulher dissemina. Uma forma muito própria de crescer com a potência do inevitável, com a irresistível energia das coisas que têm que acontecer, porque fazem parte da ordem natural de tudo. Ali onde se vê a planta que floresce e dá frutos, a árvore que fornece sombra e frescura, a raiz que permanece fincada no chão, mas ergue seus ramos para o espaço, ali a mulher é. Mas nutrir significa ainda mais. Espalhar-se por entre outras flores e outras plantas, mover-se por todos os meandros da floresta. Mulher sabe estender suas folhas para o alto, mirando o céu, buscando a luz, como se quisesse alcançar o infinito. Mas também sabe alongar seu caule, dotando-o da capacidade de atingir tudo o que a sua sombra cobre e alimentar todos os que vivem sob ela.
Intuir é uma força que a mulher ensina. Uma estrada com placas que apontam as direções mais seguras, os trajetos mais serenos, as veredas que devem ser evitadas, e as que precisam ser percorridas. Passagem para um futuro certo, que deve ser alcançado com passos vagarosos que se encaminham para um lugar definido. Ali onde predomina a planície, ali a mulher é. Mas intuir significa ainda mais. Deixar que o horizonte se abra, que outras paisagens se mostrem. Mulher sabe pavimentar rodovias retilíneas, deixar que todas as veredas se transformem em trilhas que podem ser percorridas a salvo. Mas também sabe apontar para estradas vicinais, pressentindo que existem veredas que valem a aventura de crescer, imaginando a diversidade de futuros que aguarda todo caminhante.